É sabido que nenhum ser humano atravessa o seu ciclo de vida sem experimentar a sensação provocada pela dor. Não iremos falar da dor da alma, esta também fará parte em algum momento da vida de qualquer pessoa mesmo para aquelas que ainda não sabem discernir a respeito da dor.
Aqui incluímos as crianças nas faixas mais precoces de vida. Vamos focar na dor física, uma experiência determinada por uma confluência de fatores causais, precipitantes e desencadeantes apresentando ao mesmo tempo várias dimensões: sensorial; afetiva; cognitiva; comportamental; discriminativa; interpretativa; social; motivacional entre outras. É portanto uma experiência multidimensional, produzida por padrões característicos de impulsos nervosos gerados em uma rede neuronal largamente distribuída pelo cérebro conhecida como neuromatriz (MELZACK,1999). Após uma lesão ou doença, a dor é o resultado de uma descarga neural cerebral.
Por lesão entende-se trauma, inflamação ou qualquer patologia, podendo influenciar a interpretação cognitiva da situação com a percepção visual da lesão levando a alterações emocionais. Quando um paciente nos traz queixa de dor e diferentes emoções, na maioria das vezes fica visível não somente o sofrimento relacionado a dor, mas também à incapacidade de perceber outras questões que podem intensificar o sentimento da dor.
O desafio da investigação diagnóstica e do tratamento nos leva a focar a atmosfera na qual o paciente possa estar envolvido, por isso é indispensável a análise sócio-emocional, para constituir parte integrante de qualquer avaliação. É nesse sentido que reconhecemos o papel do fator stress no processo doloroso que pode expandir significativamente para a compreensão da dor crônica. As citocinas que são liberadas no processo inflamatório local atingem o cérebro em poucos minutos e no hipotálamo ativam processos que se associam a percepção da dor, podendo levar o indivíduo a manifestações como: taquicardia, hipertensão, alterações viscerais, cutâneas entre outras.
A continuidade do stress pode causar alterações imunológicas, se estas for prolongadas, provocará também desequilíbrio no tecido muscular, ósseo e neural, como alterações bioquímica, preparando o terreno para o desenvolvimento de fibromialgia, osteoporose e outras condições dolorosas crônicas.
Além dos impulsos sensoriais, os fatores psicológicos como ansiedade, perda de calor, hemorragias, infecções, contribuem para resposta de stress. Teoricamente a influência dos fatores psicológicos na origem da dor é intermediada pelo stress. A dor crônica é reconhecida como uma forma importante de stress e um dos seus principais efeitos é a supressão do sistema imune, que pode induzir o organismo atacar o próprio organismo, produzindo doenças auto-imunes, muitas das quais provocam condições dolorosas crônicas.
Daí a frase “quando a boca cala, o corpo fala”. Mas não somente o corpo, os nossos sentimentos falam bastante por nós. Muitas vezes os resfriados constantes, a dor na garganta, no estômago, a dor de cabeça, as alergias, as unhas quebradiças, a pressão arterial que sobe, o surgimento de diabetes ou quando o corpo engorda, e até mesmo quando o coração parece querer desistir, e o sentido da vida parece estar ausente. Estes fatores podem estar associados a níveis elevados de stress deixando o nosso sistema imunológico fragilizado, daí a importância do olhar. A observação da carga de stress que acomete o corpo e a mente, este cuidar pode levar a pessoa perceber que se encontra no nível de resistência de stress e buscar um profissional especializado em controle de stress antes que esse chegue a fase mais crítica que é a fase de exaustão.
Por mais difícil que possa parecer nós nunca vamos dar conta de tudo, por tanto são sábias as pessoas que enxergam a necessidade de buscar uma ajuda profissional para resgatar a qualidade nas diversas esferas da vida.
Fonte: Mecanismos Neuropsicofisiológicos do Stress, Marilda Emanuel Novaes Lipp.